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Explora o campeonato do Euro 1984
Descobre os momentos memoráveis, as grandes estrelas e os bastidores do emocionante Campeonato Euro 1984.
19 setembro 2023
18 anos depois da aventura inglesa que terminou com a icónica fotografia de Eusébio lavado em lágrimas no relvado do velho Wembley, a seleção nacional voltava a um grande palco do futebol internacional: o Euro 1984.
É desta caminhada de sonho que só terminou num jogo impróprio para cardíacos, só resolvido no prolongamento e deu a conhecer ao mundo Fernando Albino de Sousa Chalana que vamos falar agora.
Um penalti que não existiu e um passaporte de ouro para França
Num grupo com a relativamente frágil Finlândia, a Polónia e a poderosa União Soviética, Portugal só podia fazer aquilo que fez nas qualificações anteriores: sonhar. No início da caminhada, poucos seriam aqueles que acreditariam que a seleção nacional ultrapassaria a URSS e garantisse o primeiro lugar do grupo, único que dava acesso ao Euro 1984.
Apesar de todos os adeptos se prepararem para mais um grande campeonato internacional sem a presença de Portugal, a verdade é que a equipa de todos nós chegou ao último jogo de qualificação a precisar apenas de um empate para garantir o passaporte dourado para França.
Na tarde do chuvoso dia 13 de novembro de 1983, perante um Estádio da Luz a rebentar pelas costuras, a seleção aguentou a investida soviética durante a primeira parte. E foi mesmo no fim do primeiro tempo que a bola chegou a Chalana, “o pequeno genial”, que arranca da direita já no meio-campo da URSS, finta dois adversários e quando passa pelo terceiro defensor é rasteirado em cima da linha da grande-área.
Se as dúvidas se a falta tinha ou não sido fora da área se mantinham para Rui Tovar que comentava o jogo para a RTP e para os milhões que acompanhavam o jogo, para o árbitro francês Georges Konrath a decisão foi rápida e perentória: Penalti para Portugal!
Cabe ao elegante Rui Jordão bater a grande penalidade. A pressão é grande. Milhares em expectativa no estádio, milhões de portugueses colados ao televisor, a oportunidade ouro nos pés, mas Jordão não facilitou e só se ouviu gritar GOLO!!!
De nada valeu a pressão da URSS durante a segunda parte, o passaporte dourado, arrancado quase premonitoriamente pelo pé esquerdo mágico de Chalana e apitado sem qualquer dúvida por um francês, estava assegurado: Portugal podia fazer as malas e partir para França.
“Os Patrícios” conquistam França e Chalana ascende ao Olimpo do futebol mundial
A 12 de junho de 1984, o Parque dos Príncipes em Paris acolheu a jornada inaugural do Euro 1984. A honra do jogo de abertura coube a França e Dinamarca com a vitória a ser entregue aos franceses pelo endiabrado Platini ao minuto 87.
Grupos do Campeonato da Europa de 1984
Grupo 1: França, Dinamarca, Bélgica e Jugoslávia
Grupo 2: PORTUGAL, Espanha, RFA (República Federal da Alemanha) e Roménia
Nota: Qualificavam-se para as meias-finais os dois primeiros classificados de cada grupo.
Inserido num grupo fortíssimo com RFA, Espanha e Roménia, ninguém acreditaria que Portugal conseguiria fazer mais do que participar. Todos não, naquela equipa recheada de talento batizada de “Os Patrícios” germinava o sonho de levar até aos milhares de emigrantes portugueses um motivo de orgulho que os fizesse levantar a cabeça.
Os relvados franceses veriam, pela primeira vez, os equipamentos da equipa das quinas a 14 de junho num jogo em que os comandados de Fernando Cabrita desafiaram as odes ao aguentarem um impensável empate a zero com a favorita RFA de Schumacher, K-H. Rummenigge, Völler e de um jovem Matthäus.
Onze de Portugal no jogo de estreia em fases finais de europeus (jogo contra a RFA em Estrasburgo): Bento (C), Pinto, Lima Pereira, Gomes, Magalhães, Carlos Manuel, Pacheco, Frasco, Sousa, Chalana, Rui Jordão. Jogaram também Veloso e Fernando Gomes.
Um empate contra um dos candidatos ao título europeu espantou toda a gente e fez crescer os níveis anímicos de uma seleção nacional recheada de talento.
Três dias depois, num Vélodrome de Marselha cheio de emigrantes portugueses e espanhóis, Portugal e Espanha voltariam a empatar (Espanha tinha empatado a uma bola com a Roménia na jornada inaugural). Apesar de nuestros hermanos estarem a dominar a partida, foi Portugal quem abriu o marcador por intermédio de Sousa aos 52 minutos que, com um vólei perfeito, fez passa a bola por cima de Arconada depois de uma jogada iniciada por, adivinhem? Chalana, o pequeno génio de bigode que ao fim de dois jogos já era o terror das defesas adversárias.
A vantagem lusa duraria apenas 21 minutos, já que Santillana bateria Bento aos 73 minutos para dar um ponto a Espanha.
Com dois pontos e a precisar apenas de não perder contra a Roménia e fazer o mesmo resultado do que a Espanha, Portugal entrou em campo contra os romenos com fé e, mais do que tudo, Chalana ou Chalanix como então foi batizado pelos franceses devido ao seu bigode farfalhudo, à baixa estatura e à energia que parecia nunca acabar.
Com os olhos postos no RFA vs Espanha, Portugal entra em campo pressionante e a praticar um futebol enleante que fazia adivinhar o golo. Endiabrado como sempre, com a bola sempre colada ao seu mágico pé esquerdo, Chalana tanto deu cabo da cabeça aos defesas romenos que, aos 15 minutos da primeira parte, teria que ser substituído por Diamantino Miranda. Soam os alarmes, mas Portugal não desarma.
Remates, remates e mais remates, a bola parecia não querer nada com as redes da Roménia até que, Nené, o homem que nunca sujava os calções, terminou com a angústia portuguesa e rematou em moinho para o golo solitário da partida que dava a Portugal a qualificação para as meias-finais do Euro 1984.
Dia: 23 de junho; Local: Stade Vélodrome, Marselha; Lotação: esgotadíssima
De um lado a arrogância dos franceses que achavam que a presença na final era uma mera formalidade. Do outro, uns “patrícios” comandados pelo sonho e pelos dribles do genial Chalana.
As coisas não poderiam começar pior quando, aos 24 minutos, num livre direto à entrada da área portuguesa, o pé esquerdo de Domergue coloca a França em vantagem. A França não se dá por satisfeita e cria lances de perigo atrás de lances de perigo junto à baliza defendida por Bento.
A espaços, Chalana, sempre ele, Diamantino e Jaime Pacheco tentavam contrariar a avalanche azul, mas sem sucesso até que, aos 74 minutos, o impensável acontece: A bola cola no pé esquerdo de Chalanix e de lá sai redondinha para a cabeça de Rui Jordão igualar a partida e mandar as decisões para o prolongamento.
Se isto era tudo menos algo que estivesse nas previsões dos franceses, aos 98 minutos, já no prolongamento, a tragédia vira farsa quando o pequeno genial finta o defesa-esquerdo francês uma e duas vezes e cruza para um espetacular remate de Rui Jordão só encontrar conforto no fundo da baliza de Bats. 2-1 para Portugal e a França em choque.
Tudo viria a mudar nos doze minutos finais, minutos frenéticos em que Tigana, Giresse e Platini soltaram a magia e deram a volta ao marcador, apesar de uma correria insana de Chalana ter acabado com um passe de morte para Nené acabar com o jogo no final da primeira parte do prolongamento.
Tal não aconteceu e Domergue aos 114 minutos e Platini aos 119 minutos tiraram o pão da boca aos bravos e indomáveis portugueses.
Apesar da derrota, Portuga sai do Euro 1984 como um dos grandes vencedores tendo mostrado ao mundo do futebol que neste canto da Península Ibérica também se joga bom futebol.
Em termos individuais, o campeonato da Europa de 1984 será sempre lembrado pelo nosso Astérix, pelo nosso herói de pernas arcadas que espalhou magia nos relvados franceses e entrou, definitivamente, no panteão dos heróis imortais do futebol nacional.
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