Chegou a época da Taça de Portugal Placard

No próximo dia 22 de maio, o Estádio Nacional voltará a receber a final da “prova rainha” do futebol nacional: a Taça de Portugal Placard. Futebol Clube do Porto, pela trigésima segunda vez na sua história, e Clube Desportivo de Tondela, estreante, são as equipas que vão lutar pelo decano do “troféu dos troféus” que, neste momento, se encontra nas mãos do Sporting Clube de Braga depois de na época passada ter batido o Sport Lisboa e Benfica na final disputada no Estádio Cidade de Coimbra.

 

Histórias como a do Clube Desportivo de Tondela que se prepara para disputar a sua primeira final, são o substrato que alimentam a magia que fazem da Taça de Portugal Placard não só a mais democrática de todas as competições nacionais de futebol, mas também aquela que mais faz sonhar jogadores, técnicos e, sobretudo, os adeptos de futebol espalhados pelo país.

 

Uma breve história da Taça de Portugal Placard

Utilizando o mesmo troféu e formato do seu antecessor Campeonato de Portugal (criado na época de 1921–22) a Taça de Portugal Placard teve a sua edição inaugural na temporada 38-39 que contou com a participação de 15 clubes e se realizou de forma concentrada (14 de maio de 1939 – 25 de junho de 1939), como aliás viria a acontecer durante décadas, no final da época desportiva.

 

Depois de ultrapassarem os oitavos, os quartos e as meias-finais, sempre em eliminatórias a duas mãos, a Associação Académica de Coimbra e o Sport Lisboa e Benfica chegam à final que se disputaria no histórico Campo das Salésias em Lisboa. Num jogo marcado pela incerteza no resultado, a “briosa” acabaria por levar de vencida os encarnados por 4-3 e, assim, levantar pela primeira vez, sua e da História do Futebol português, o icónico “caneco”.

 

A respeito do troféu que é entregue ao vencedor, é importante referir que o troféu oficial da prova rainha, datado de 1922, pertence à Federação Portuguesa de Futebol, pesa 20 kg e é constituído por uma taça em prata cinzelada e ricamente ornamentada em estilo manuelino na qual consta de um bojo de prata constituído por caravelas e em segundo plano fragatas.

 

Apesar de ser este o troféu oficial, ao vencedor de cada edição é entregue uma réplica, igualmente ornamentada, mas de menor dimensão que o original onde na sua base estão gravados em placas de prata não só o nome de todos os vencedores da Taça de Portugal Placard, como também todos os vencedores do Campeonato de Portugal desde 1921–22 até ao presente.

 

Ao longo das épocas seguintes, com exceção das temporadas de 46-47 devido a constrangimentos de calendário e de 49-50 devido à realização da Taça Latina no Estádio Nacional, a Taça de Portugal Placard continuou a ser o ponto de encontro entre as equipas das mais variadas divisões do futebol nacional e, até do futebol africano. Africano? Sim, africano. Durante 16 anos, várias equipas provenientes de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde foram convidadas a participar.

 

Existiram alguns jogos entre equipas africanas e da então denominada “metrópole” que se disputaram no continente africano fazendo da Taça de Portugal Placard, durante esses 16 anos, uma competição não só nacional, mas também “intercontinental”.

Estádios da Final da Taça de Portugal Placard

Ainda que no imaginário dos adeptos, a final da Taça de Portugal Placard estar associada indelevelmente ao Estádio Nacional, a verdade é que nem sempre foi assim. Como referimos, a primeira das 82 edições da Taça de Portugal Placard foi ganha pela Associação Académica de Coimbra numa final disputada contra o Sport Lisboa e Benfica que se disputou no antigo Campo das Salésias. Este e o Campo do Lumiar acabariam por serem os palcos da final até 1946, data em que o jogo que define o vencedor da Taça de Portugal Placard se muda de armas e bagagens para o recém-inaugurado Estádio Nacional.

 

Foi preciso esperar por 1961 para que a final da prova rainha das competições nacionais de futebol conhecesse um outro estádio. No dia 9 de julho de 1961, Leixões Sport Club e Futebol Clube do Porto disputaram a final da Taça no Estádio das Antas a pedido dos 'azuis e brancos' uma vez que se tratava de duas equipas do Norte.

 

Entre 75 e 77, devido à indicação da FPF de a final da Taça ser disputada no vencedor da edição do ano anterior, o jogo decisivo da edição de 75 transferiu-se para o Estádio José de Alvalade, uma vez que o Sporting Clube de Portugal tinha erguido o troféu em 1974.

 

Na última final sobre a regra imposta pela federação, o Estádio das Antas engalanou-se pela segunda vez consecutiva para receber a final da Taça de Portugal Placard num jogo em que o Futebol Clube do Porto venceria o Sporting Clube de Braga por 1-0. De referir que o treinador dos portistas era José Maria Pedroto que, desta forma, conquistaria a prova rainha do futebol português pela terceira vez consecutiva.

 

Antes das edições de 2019-2020 e 2020-2021 se disputaram no Estádio Cidade de Coimbra, a última final da Taça que não se realizou no Jamor aconteceu em 1983 num jogo que viria a opor o Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa e Benfica, tendo sido jogado no Estádio das Antas e, onde o Sport Lisboa e Benfica acabaria por ganhar por 1-0 e trazer o troféu para Lisboa.

Vencedores da Taça de Portugal Placard

Dissemos que a Taça de Portugal Placard é a mais democrática do panorama competitivo do futebol português e nada podia ser mais verdadeiro. Desde 1939, cada edição da prova rainha do futebol nacional junta equipas de diversas divisões, incluindo algumas vindas dos distritais, que alimentam o sonho de um dia chegarem à final do Jamor e levantarem o troféu.

 

Por exemplo, na edição 2021-2022, contou com a participação de 154 clubes e viu o Leça Futebol Clube, equipa do Campeonato de Portugal (4º escalão), chegar aos quartos de final da prova. Esta caminhada da equipa matosinhense é apenas um dos muitos exemplos de que como muitas equipas com menor dimensão e capacidade do que os chamados grandes se arrogam ao direito de sonhar e fazer sonhar os seus adeptos.

 

Curiosidade: a primeira final da Taça sem a presença do Sporting Clube de Portugal, Sport Lisboa e Benfica ou Futebol Clube do Porto, disputou-se em 1942 e opôs o Clube de Futebol Belenenses ao Vitória Sport Clube. O jogo terminaria com a vitória dos azuis do Restelo por duas bolas a zero.

 

Clube Desportivo das Aves em 2017-2018 (frente ao Sporting Clube de Portugal), Sport Clube Beira-Mar em 1998-1999 (frente ao Sporting Clube Campomaiorense) ou Clube de Futebol Estrela da Amadora em 1989-1990 (frente ao Sporting Clube Farense) são apenas três exemplos de como os sonhos se podem tornar realidade, mas apesar de toda essa dimensão onírica, os chamados grandes acabam por ser os dominadores da Taça de Portugal Placard: Sport Lisboa e Benfica tem 27 troféus, enquanto Futebol Clube do Porto e Sporting Clube de Portugal têm 17 taças cada.

 

Curiosidade: na época 1952–53, o Sport Lisboa e Benfica tornou-se na única equipa a vencer quatro Taças de Portugal de forma consecutiva.

 

Ainda assim, nas posições subsequentes é de registar os 5 troféus conquistados pelo Boavista Futebol Clube e os 3 conquistados por Vitória Futebol Clube, o Clube de Futebol Belenenses e Sporting Clube de Braga. Associação Académica de Coimbra com 2 e Vitória Sport Clube, Leixões Sport Club, Sport Clube Beira-Mar, Clube de Futebol Estrela da Amadora e Clube Desportivo das Aves com 1 completam a lista.

 

Curiosidade: no ano em que o Sport Clube Beira-Mar conquista a sua primeira e única Taça de Portugal Placard numa final disputada contra o Sporting Clube Campomaiorense, o clube alvinegro acabou por descer de divisão acabando por disputar a Taça UEFA enquanto navegava na 2 Liga.

 

A estes treze clubes que já levaram para casa a Taça de Portugal Placard, é importante referir que mais uma dúzia de equipas já atingiu a final do Jamor, algumas das quais por mais do que uma vez, sem, no entanto, conseguirem o tão ambicionado troféu: Atlético Clube de Lisboa, Club Sport Marítimo e Rio Ave Futebol Clube por duas ocasiões; Grupo Desportivo Estoril Praia, Sporting Clube Olhanense, Sporting Clube Farense, Sport Clube União Torreense, Sporting Clube da Covilhã, Sporting Clube Campomaiorense, União Desportiva de Leiria, Futebol Clube Paços de Ferreira e Grupo Desportivo de Chaves por uma ocasião.

 

Uma palavra ainda para os treinadores para quem, como se pode perceber pelas declarações de treinadores tão conceituados como Jorge Jesus ou Sérgio Conceição, a Taça de Portugal Placard representa não só a oportunidade de conquistarem mais um troféu, mas também, e sobretudo, o atingir de um sonho de menino.

 

No total, desde a sua criação, 58 treinadores venceram a Taça de Portugal Placard. Esta honrosa lista é comandada por Otto Glória e José Maria Pedroto com 4 troféus cada, seguidas de uma nova dupla, desta feita composta pelo húngaro János Biri e o português Fernando Vaz com três.

 

Curiosidade: Jesualdo Ferreira, Paulo Bento, Fernando Santos e Rui Vitória são os treinadores no ativo com mais Taças de Portugal Placard no currículo, duas cada.

 

Os golos são o sal do futebol e a final da Taça de Portugal Placard é o exemplo máximo disso mesmo. Em 84 anos de história, apenas por uma vez o jogo decisivo terminou sem golos. Isso aconteceu em 1993-1994 quando Futebol Clube do Porto e Sporting Clube de Portugal empataram a zero após prolongamento obrigando à disputa de uma finalíssima que terminaria com a vitória azul e branca por 2-1 após prolongamento.

 

Curiosidade: a finalíssima, método de desempate utilizado durante décadas para desempatar uma final que consistia na realização de um novo jogo, foi abolida no início da época 2001-2002.

 

Apesar de Eusébio ser o jogador com mais golos da vitória (dois) e o único a fazer um hat-trick em finais da Taça de Portugal Placard, o melhor marcador de sempre em finais da prova rainha continua a ser o lendário Rogério “Pipi” do Sport Lisboa e Benfica com 15 golos anotados em 6 jogos.